Mito da caverna x Matrix

O Mito da Caverna foi escrito por Platão, integra a sua obra República. Tal mito apresenta a situação de pessoas que estando presas a uma perspectiva da realidade são levadas a descobrir um novo mundo, o mundo do conhecimento. Mostrando como se dá esse processo de conhecimento e percepção da realidade.
A trilogia Matrix (1999), dirigida pelos irmãos Wachowski, é uma produção norteamericana com linguagem de fundo filosófico onde um "ignorante" tem a chance de conhecer uma outra verdade sobre o mundo.
Texto e filme se conectam pela ideia de que há sempre uma outra verdade além daquela que nossos olhos nos permitem ver e que nossa condição permite assimilar. A cena que mais se relaciona ao texto de Platão se dá no primeiro filme quando Neo (Kenau Reeves) é levado por Trinity (Carrie-Anne Moss) até Morpheus (Laurence Fishburne) e neste instante ele deverá escolher entre a pílula azul ou a vermelha, a verdade do mundo da Matrix e a do mundo o qual ele já conhecia.
Neo, segundo Morpheus, está preso, assim como todos os demais homens que não tiveram a oportunidade de enxergar além da trave que há em seus olhos, todos estão presos para não descobrirem a verdade. Em Platão, os homens da caverna também estão presos, impedidos de ver além das sombras dos objetos e transeuntes. Aí temos que, desde a escola somos levados a permanecer na posição dos homens que estão na caverna, muitas vezes impossibilitando a formulação de idéias, a construção de um conhecimento além do que é colocado nos livros didáticos, sem que possamos nos relacionar com o entorno. Sendo forçosamente adestrados a aceitar a realidade que querem que vejamos.
Essa manipulação configura a relação classe dominante e subalterna que segrega a sociedade moderna, cada vez mais amparada pelo Estado, pelo capital, instituições de ensino e religião, a classe dominante acorrenta os menos abastados com sua política de pão e circo.
Porém, que verdade é essa de que fala Platão, de que fala Morpheus? É o libertar-se do senso comum. E é interessante observar que apesar de afirmarem que essa é a verdade, Platão (como todo filósofo) e Morpheus não a aceitam completamente. No filme isso me parece claro quando Morpheus oferecendo as duas pilulas a Neo diz: "...tudo o que ofereço é a verdade, nada mais.", ou seja, no mundo antes das sombras onde os objetos são apenas a idéia deles mesmos também existe uma verdade, a diferença, talvez é que, ao emergir desse mundo o ser agrega mais conhecimento por meio da experiencia e a razão terá mais ferramenta para denominar o mundo posto neste momento como real.
A questão da escolha no texto e no filme é outro ponto bastante interessante. O homem da caverna a quem é dada a chance de subir ao mundo superior (das idéias), assim como ao Neo, conhecer a verdade por uma outra perspectiva de acordo com as escolhas que faz. Essa escolha não tem volta, pois depois de estar no mundo inteligível, os conhecimentos adquiridos ficam gravados na memória, registrados na alma e torna-se impossível retornar à posição de observador das sombras, dos resquícios da realidade, sem questioná-la, sem analisá-la ou até mesmo buscar compreende-la. A realidade de outrora não mais é ideal e esse sujeito torna-se marginalizado, um ser intermediário desses dois mundos, sem pertencer a nenhum deles de fato.
O Mito da Caverna e Matrix podem exemplificar na sociedade moderna as relações atuais, a posição da escola, a luta por uma educação mais esclarecedora e menos encarceradora da criatividade dos homens, principalmente dos subalternos, dos trabalhadores, dos estudantes de baixa renda que tem hoje seus corpos amarrados, seus olhos cegados e sua mente bombardeada pela midia do consumismo, pelo economia da mais valia e os seus padrões sociais produzidos para desequilibrar o ser, alijando-o da realidade do mundo.

Um comentário:

  1. Thais bom dia, seu texto bate com muitos pensamentos que tenho a respeito da caixa e da sociedade do medo a qual somos todos condicionados, o texto de Platão bem como o filme Matrix reportam a curiosidade em ir além e asism assumir novas verdades e desafios, gostaria de parabenizá-la pela análise realizada e gostaria também de solicitar sua autorização para copiar o texto para em cima dele elaborar um novo texto. Agradeço desde já e mais uma vez parabéns pelo texto.

    Mauricio Giaffredo.

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